Jesus Freak

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Introdução aos evangelhos sinóticos

Aula ensinada pelo pr.Nivton no dia 08/02/2009

Os livros que formam o cânon do Novo Testamento não estão ali por acaso. No primeiro século, no início da igreja, várias circunstâncias daquele tempo fizeram com que fossem necessários critérios de aceitação dos escritos a respeito da vida e obra de Jesus que influenciariam doutrinariamente a igreja recém-nascida. Um dos primeiros e principais critérios da igreja para aceitar um livro como autoridade doutrinária rezava que este deveria ter sido escrito por um apóstolo ou seu discípulo, o que garantia a procedência da doutrina ali ensinada.

Com base neste critério, as primeiras listas dos livros canônicos colocavam os evangelhos na ordem de Mateus, João, Lucas e Marcos; uma vez que os dois primeiros eram apóstolos, então lhes era conferida maior autoridade, e os dois últimos eram discípulos de Paulo e Pedro, respectivamente. Com o passar do tempo e com a percepção da semelhança entre Mateus, Marcos e Lucas, estes três livros passaram e constar na ordem que estão hoje em nossas Bíblias. A tradição ainda conservou Mateus como o primeiro, devido à autoridade apostólica, seguido por Marcos e Lucas, agrupados devido à mesma linha literária, e depois João, que possui um estilo literário distinto dos três primeiros.

Por volta do século XVIII, os três primeiros evangelhos passaram a ser referidos como sinóticos. Devido à sua semelhança de estilo e conteúdo, é plenamente aceita a teoria de que os autores desses livros tiveram fontes comuns, e que um teve acesso ao escrito do outro; neste caso, Mateus e Lucas tiveram acesso aos escritos de Marcos, primeiro a redigir um evangelho.

Dentre várias suposições e teorias para solucionar o que é chamado de “problema sinótico”, a mais aceita coloca o evangelho de Marcos como primeiro a ter sido escrito, pelo autor de mesmo nome do livro, tendo servido como referência para Mateus e Lucas. Limitar as fontes de Mateus e Lucas somente ao livro de Marcos, porém, é impossível. Muitos textos presentes naqueles dois evangelhos não fazem parte deste. Muitos são comuns entre os dois, e há ainda outros que são bem mais particulares. A maioria dos teólogos modernos aceita que Marcos escreveu primeiro, Mateus e Lucas se referenciaram nele, usando cada um também de uma terceira fonte comum, além de ainda imprimirem em sua obra suas próprias impressões e pontos de vista da vida e do ministério de Jesus.

Cruzando os relatos dos 3 evangelhos, pode-se supor o que seja a 3a fonte, a comum entre Mateus e Lucas. Essa é chamada de “Fonte Q (Quelle)”, assim batizada pelos teólogos alemães. A Fonte Q seria um conjunto escrito das sentenças de Jesus e de João Batista, que que incluía as principais atividades de Jesus, com ênfase em seus milagres (o que comprovava a autoridade de suas palavras), sem conter o relato da paixão, morte e ressurreição.

Entende-se, então, que o que se pode encontrar em Mateus e Lucas, que não esteja presente em Marcos, refere-se à Q. Enquanto que a maior parte do que se encontra somente em Mateus e não em Marcos e Lucas, é dele próprio ou de outra fonte, como também acontece com Lucas no que diz respeito aos escritos exclusivos de seu evangelho.

Como exemplo de inserções particulares de Mateus e Lucas, temos as narrativas do nascimento de Jesus nesses dois evangelhos. Mateus (1-2) narra o sonho de José, o nascimento de Jesus, a adoração dos magos, a matança das crianças por Herodes, a fuga ao Egito e a volta para Nazaré. Lucas (1-2) conta o anúncio do nascimento de João Batista, o anúncio e o nascimento de Jesus, a adoração dos pastores, a circuncisão de Jesus, sua apresentação no Templo e sua visita ao Templo na idade de doze anos. Estes trechos são conhecidos como os “evangelhos da infância de Jesus”. Marcos não o usa, pois não tinha intuito de remontar uma biografia de Jesus (talvez nem Mateus e Lucas), mas sim de mostrar os principais gestos e palavras de Jesus.

Temos então que Mateus e Lucas tiveram suas particularidades na autoria de seus evangelhos, mas usaram Marcos e Q como fontes comuns. A essa hipótese, chamamos de a “hipótese das duas fontes”. Como já foi dito, ela é aceita pela maioria dos especialistas do Novo Testamento. Podemos ilustra-la como segue:

Pregação apostólica --------------à Mc-----------à Mt
+
Tradição----------------------------à [Q]-----------à Lc


Como exemplo do uso de Q nos dois últimos evangelhos (ordem cronológica) temos o que é dito sobre João Batista em cada um dos três evangelhos:

Mt.: 3.1-12 (7-12 ref. Q) – Mc.: 1.1-8 – Lc.: 3. 1-20 (7-9 e 16-17 ref. Q)

Os evangelhos sinóticos narrarão a história de Jesus sobre a mesma direção. Em síntese, a história caminhará nos seguintes passos: o aparecimento de João Batista, o batismo e a tentação de Jesus, o ministério público na Galiléia, a confissão de Pedro, a descida da Peréia para Jerusalém, a entrada triunfal, as controvérsias com os guias religiosos dos judeus, a ceia na quinta feira da semana chamada santa, a traição de Jesus por Judas Iscariotes, seu aprisionamento, a crucificação, o sepultamento, a ressurreição e as aparições de Jesus ressurreto.


Bibliografia consultada

Estudos introdutórios dos Evangelhos Sinóticos, Rev. Osmundo Afonso Miranda, Casa Editora Presbiteriana, Cambuci, São Paulo, 1989.

Sinopse dos Evangelhos e Mateus, Marcos, Lucas e da “Fonte Q”, Johan Konings, Edições Loyola, São Paulo, 2005.

Introdução ao Novo Testamento, D.A. Carson, Douglas J. Moo, Leon Morris, Edições Vida Nova, São Paulo, 1997

Introdução ao Novo Testamento, Raymond E. Brown, Paulinas, 2004.

Um comentário:

  1. Foi muito bom ler o que você escreveu, eu dou aula no Seminário Teológico Servos de Cristo - SDC - Guarapari/ES, e dou aula de Mateus e muito me ajudou para a introdução do livro de Mateus, porque tratamos muito essa questão da similaridade dos evangelhos e porque estão assim colocados na Palavra de Deus, obrigado...

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